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Resumo:

 

Doença por Mutação Génica Coreia de Huntington insere-se na temática  das  doenças

causadas por mutação genética, lecionada na disciplina de Biologia e Geologia no 11º ano. Este trabalho propõe-se a alertar para a existência da Coreia de Huntington através de uma análise simplificada das suas principais características, causas, consequências, tratamento ou prevenção envolvidos e incidência num determinado grupo da população. Apresentamos, assim, a tese consensual que defende que a Coreia de Huntington deriva de uma extensão trinucleotídica, sendo uma entre várias doenças poliglutamínicas. Esta doença atrofia todo o cérebro, provocando vários sintomas a níveis emocional e comportamental, cognitivo e motor. A doença ainda não tem cura, mas existem vários tratamentos que ajudam a controlar os seus sintomas e a melhorar a qualidade de vida do indivíduo por ela afectado.

 

Palavras-chave: Coreia; Mutação; Gene; Huntingtina; Trinucleótido; Doença Poliglutamínica;

 

  1. Introdução

 

Existem diversos tipos de movimentos anormais reconhecidos. Um tremor consiste num movimento oscilatório rítmico em redor de uma articulação, e é caracterizado através da sua relação com a atividade que o indivíduo está a executar no momento em que este ocorre.

O tema deste trabalho, a Coreia de Huntington, inserido neste contexto, é também conhecida por Doença de Huntington, devendo esta denominação a George Huntington, autor da primeira publicação científica acerca deste síndrome clínico, que foi apresentado em Abril de 1872, na revista norte-americana The Medical and Surgery Reporter com o nome de Coreia Hereditária. O termo coreia, derivado do grego, significa dança, e é uma designação muito apropriada para as alterações motoras presentes neste síndrome, semelhantes a certos passos de dança.

No artigo original, George Huntington descreveu uma série de alterações, descrevendo um quadro clínico em que a característica mais marcante é um espasmo corporal que afeta os músculos, sem ocorrer perda da sensibilidade ou consciência: “A doença inicia-se comumente por leves abalos dos músculos da face, que aumentam gradativamente em violência e variedade. As pálpebras piscam repetidamente, a testa franze e eleva-se, o nariz torce para um lado e depois para o outro e a boca movimenta-se em direções variadas, dando ao paciente a aparência mais ridícula que se possa imaginar. Parece existir uma força oculta, algo que, de certa forma, brinca com a vontade e de algum modo dificulta e perverte os seus desígnios; e depois de a vontade parar de exercer a sua força numa direção qualquer, assume o controlo e mantém a pobre vitima numa agitação contínua enquanto permanece acordada (…)”.

 

 

 

  1. Características

 

A Coreia de Huntington, caracterizada por coreia progressiva e demência, é uma doença neurodegenerativa, com início na idade adulta, e consiste na repetição do tripleto CAG (citosina-adenina-guanina) - quanto maior é o número de tripletos mais precoce e grave é a doença.

A mutação localiza-se no gene Cr4p16 que codifica a proteína Huntingtina e se esta não estiver funcional as células do corpo estriado (dos núcleos da base)(1) podem morrer, provocando os sintomas que consistem em contrações musculares involuntárias, imprevisíveis e irregulares que ocorrem em diferentes partes do corpo e prejudicam a atividade voluntária. Em alguns casos, os músculos dos membros são mais gravemente atingidos, e, pelo facto de os movimentos anormais serem então particularmente violentos, o termo balismo(2) tem sido usado para descrevê-los.

Os primeiros sintomas da Doença de Huntington manifestam-se, na sua maioria, na idade adulta, entre os 35 e os 55 anos de idade, sendo que, em 10% dos casos, estes aparecem antes dos 20 anos de idade e, em apenas 5% aparecem depois dos 60 anos. Ainda assim, os sintomas da coreia podem variar em gravidade, idade de manifestação e taxa de progressão de pessoa para pessoa, inclusive entre membros da família.

A Coreia de Huntington é de herança autossómica dominante, o que significa que um indivíduo afetado herda, geralmente, uma cópia do gene com uma repetição de trinucleotídeos expandido (o alelo mutante) de um progenitor afetado. Uma vez que a penetração da mutação é muito elevada, aqueles que têm uma cópia mutante do gene terão a doença. Neste tipo de padrão de hereditariedade, cada prole de um indivíduo afetado tem um risco de 50% de herdar o alelo mutante e, portanto, ser afetado com a doença (ver Ilustração 2). No entanto, se é a mãe que está afetada, a gravidade da doença mantém-se na geração seguinte, mas se for o pai o afetado, a doença deverá agravar-se na geração seguinte (sintomas mais graves e aparecimento mais precoce). É ainda de realçar que se uma pessoa não é portadora do gene defeituoso, não poderá transmiti-lo para os seus filhos.

A doença de Huntington é uma doença que se desenvolve gradualmente e infelizmente não tem cura. No entanto, alguns sintomas podem ser minimizados através de medicamentos.

 

 

  1. Causas da Coreia de Huntington

 

A doença de Huntigton é um distúrbio autossómico dominante hereditário causado por uma anormalidade no cromossoma 4. A mutação localiza-se no gene Cr4p16.

Os indivíduos com doença de Huntington possuem uma amplificação (repetição) do trinucleótido CAG (citosina-adenina-guanina) que codifica o aminoácido glutamina. Apenas alelos(3) com mais de 40 repetições estão associados à manifestação da doença e quanto maior for o número de tripletos mais precoce e grave é a doença.

O gene afectado codifica a proteína Huntingtina, que normalmente estimula a transcrição e tradução do BDNF que bloqueia a apoptose em neurónios do corpo estriado do córtex cerebral. Se a proteína não estiver funcional estas células podem morrer, provocando os sintomas.

O gene de um indivíduo saudável possui entre 6 a 36 repetições do tripleto CAG, enquanto o gene de um indivíduo com Doença de Huntington possui entre 37 a 121 repetições. Portanto, a DH é causada por uma extensão trinucleotídica e é uma entre várias doenças poliglutamínicas.

 

 

  1. Consequências

 

Os sintomas da doença de Huntington tornam-se geralmente percetíveis em idades entre os 35 e 44 anos, mas podem começar em qualquer idade, desde a infância à idade. Em estádios iniciais há mudanças subtis na personalidade, cognição e competências físicas. Os sintomas físicos são geralmente os primeiros a ser notados, sendo que os sintomas cognitivos e psiquiátricos não são, geralmente, graves o suficiente para serem reconhecidos no doente em fases anteriores. Quase todos os indivíduos com a doença de Huntington, eventualmente, exibem semelhantes sintomas físicos, mas inicialmente, a progressão e extensão dos sintomas cognitivos e psiquiátricos variam significativamente entre os indivíduos.

Assim, existe uma vasta diversidade de consequências da Coreia de Huntington, que advêm da degeneração das células nervosas. Estas podem restringir-se a sintomas a nível motor, mas que podem ser também ser encontrados a nível emocional e comportamental, ou ainda cognitivos e intelectuais.

Os primeiros, mais evidentes, consistem, inicialmente, em inquietação, contrações musculares ou agitação excessiva. Verificam-se ainda mudanças na escrita e aumento da dificuldade em outras habilidades diárias que envolvam coordenação e concentração, tal como conduzir. Estes sintomas iniciais podem evoluir gradualmente para movimentos involuntários da cabeça, tronco ou membros, que frequentemente levam a problemas na manutenção do equilíbrio, e dificuldades em andar. A fala e a deglutição podem ficar prejudicadas. Os movimentos em geral tendem a aumentar durante esforço voluntário, stress ou excitação, e diminuir durante o descanso e o sono.

A doença tem, ainda, impacto no aparelho cognitivo do indivíduo, com alterações inicialmente leves, que envolvam a organização de assuntos de rotina, bem como em novas circunstâncias. Verificam-se, de seguida, alterações na memória e um precoce envelhecimento mental, com efeito no aumento da dificuldade de realização de tarefas de trabalho.

Além das alterações a nível motor e intelectual, as consequências da Coreia de Huntington expandem-se ao comportamento do indivíduo afetado pela doença, podendo variar entre depressão, apatia, ansiedade ou irritabilidade, muitas vezes sem estes serem reconhecidos como sintomas da doença. Podem verificar-se explosões de agressividade, impulsividade, isolamento social e oscilações de humor, e a intensificação de certos traços da personalidade do indivíduo.

 

Prevalência de sintomas comportamentais/emocionais da Doença de Huntingto)

Irritabilidade

38 – 73%

Apatia

34 – 76%

Ansiedade

34 – 61%

Depressão

33 – 69%

Obsessão/Compulsão

10 – 52%

Distúrbios Psicóticos

03 – 11%

 

(Tabela 1 – “Reported prevalences of behavioral and psychiatric symptoms in Huntington's disease” retirado de http://en.wikipedia.org/wiki/Huntington's_disease)

 

 

 

 

  1. Tratamento

 

Atualmente, a Doença de Huntington não tem cura nem tratamentos que permitam prevenir ou retardar a progressão da doença. No entanto, é possível reduzir, aliviar ou controlar alguns dos sintomas por ela provocados, melhorando a qualidade de vida do doente. Estes tratamentos podem ser farmacológicos, quando se recorre a medicamentos, e não farmacológicos, quando não se recorre a estes.

A medicação é um tratamento sintomático farmacológico que pode reduzir os sintomas emocionais e comportamentais. Os medicamentos utilizados podem ser antipsicóticos (neurolépticos), antidepressivos, ansiilíticos (tranquilizantes) ou hipnóticos. Assim, podem-se controlar a depressão, a apatia e perturbações de humor, a ansiedade e a insónia. No entanto, deve-se recorrer a um médico ou especialista para determinar a medicação indicada de acordo com os sintomas e respostas ao tratamento de modo a evitar qaisquer efeitos secundários.

A terapia é um tratamento não farmacológico que pode minimizar os sintomas emocionais e comportamentais, cognitivos e motores, proporcionando melhorias no estado de humor (ânimo), na coordenação motora, articulação da fala, equilíbrio, deglutição e marcha.

A nutrição tem, também, um papel importante no tratamento da Doença de Huntington. A ajuda de um nutricionista é fundamental para uma escolha correta dos alimentos, segundo a sua composição e consistência, uma vez que a doença provoca emagrecimento, mesmo seguindo uma dieta equilibrada.

 Outro tratamento, ainda em investigação, é o implante de células estaminais, que consiste na substituição de neurónios mortos através de uma injeção de células estaminais na área afetada. Os indícios são aliviados se um número significante de neurónios mortos for substituído. Este tratamento tem como objetivo impedir a progressão dos danos cerebrais, diminuindo as zonas do cérebro afetadas. Por vezes, este método é pouco eficaz pois não se consegue impedir a progressão da doença noutras zonas do cérebro, podendo também verificar-se a rejeição e morte dos tecidos implantados.

O conhecimento sobre a Doença de Huntington tem aumentado muito nos últimos anos. Atualmente, decorrem uma série de investigações com o intuito de detetar a causa desta mutação e com o objetivo de encontrar tratamentos e medicamentos que possam prevenir ou retardar a progressão da doença, esperando-se que muitos estudos clínicos se iniciem em breve.

Foram, ainda, feitas experiências em animais, verificando-se melhoria dos sintomas produzidos pela doença e o prolongamento da esperança de vida em 20%, resultados animadores para os milhares de indivíduos afetados pela doença em todo o Mundo

 

  1. Incidência

 

A prevalência global da Doença de Huntington é de 5-10 casos por 100.000 pessoas, mas varia muito geograficamente, como resultado de migração étnica, e dos locais e padrões de imigração passados. Esta doença afeta 5 a 8 entre 100.000 pessoas, na Europa, onde é mais comum. Atualmente, nos EUA, existem cerca de 30.000 pessoas que sofrem de Doença de Huntington e 150.000 pessoas em risco.

Em Portugal, o número de pessoas afetadas é de 1.200 e verifica-se um número significativo de pessoas em risco.

O gene afetado pela mutação que origina esta doença é hereditário e, por isso, não depende de qualquer ambiente a que o individuo esteja exposto nem é transmissível de pessoa para pessoa. Por isso, homens e mulheres podem herdar o gene igualmente e pode afetar pessoas de todos os grupos étnicos, sendo que a prevalência é semelhante para homens e mulheres.

Apesar disso, a taxa de ocorrência é maior em populações de ascendência da Europa Ocidental, em média cerca de 70 por um milhão de pessoas, e é menor do que no resto do mundo, como por exemplo nos países africanos e asiáticos, nos quais se verifica a estatística de um indivíduo afetado por milhão de habitantes. Além disso, algumas áreas localizadas têm uma prevalência muito maior que a média. Uma das regiões onde se verifica maior incidência da Coreia de Huntington é a região isolada do Lago de Maracaibo da Venezuela, onde a doença afeta até sete mil indivíduos por milhão de habitantes. Outras áreas de alta incidência são a Tasmânia e regiões específicas da Escócia, País de Gales e Suécia. O aumento da prevalência em alguns casos ocorre devido a um efeito fundador local, isto é, uma migração histórica de portadores para uma área de isolamento geográfico.

Até a descoberta de um teste genético, as estatísticas só incluíam o diagnóstico clínico baseado em sintomas físicos e uma história familiar de Coreia de Huntington, excluindo-se aqueles que morreram de outras causas antes do diagnóstico. Estes casos podem ser atualmente incluídos nas estatísticas à medida que o teste se torna mais disponível, sendo que é provável que as estimativas da prevalência e incidência da doença aumentem.

 

  1. Bibliografia

 

KATZUNG, Bertram G. (2006). Farmacologia Básica e Clínica, 10ª Edição. Brasil: McGraw-Hill Medical.

 

VÁRIOS, Huntington’s Disease. Disponível em: http://en.wikipedia.org/wiki/Huntington's_disease. Acesso em: 16 de Novembro de 2012.

 

VÁRIOS, Dossier: Doença de Huntington. Disponível em: http://medicosdeportugal.saude.sapo.pt/utentes/doencas_neurologicas/dossier_doenca_de_huntington/2. Acesso em: 16 de Novembro de 2012.

 

VÁRIOS, Doença de Huntington. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Doen%C3%A7a_de_Huntington. Acesso em: 16 de Novembro de 2012.

 

Huntington’s Disease. Disponível em: http://learn.genetics.utah.edu/content/disorders/whataregd/hunt/. Acesso em: 16 de Novembro de 2012.

 

O que é a Doença de Huntington. Disponível em: http://www.minhavida.com.br/saude/temas/doenca-de-huntington. Acesso em: 17 de Novembro de 2012.

 

Genética: Mutações Genéticas – Doenças Genéticas. Disponível em: http://mutacoesgeneticas.blogs.sapo.pt/5668.html. Acesso em: 17 de Novembro de 2012.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

                                                      (http://www.youtube.com/watch?v=X6aZSXZ0syM)

 

Coreia de Huntington

Jéssica Amaral, Rita Bento, Patrícia Lyra, Mariana Cruz

Colégio Vasco da Gama – 2013 / 2014

Professora Ondina Espírito Santo - Biologia e Geologia 11º Ano

 

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